quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Desafio Zatopék - 100 tiros de 100

Hoje, 6 de dezembro, completei mais um ano de vida, e como em todo aniversário, tento realizar alguma coisa diferente e marcante para dessa data lembrar para sempre.

Não necessariamente envolve corrida, mas em 2012 quis que envolvesse pelo simples fato de que correr foi muito importante pra mim esse ano.

E não apenas no sentido competitivo, onde pude alcançar minhas melhores marcas, mas por todos os benefícios que correr me trouxe em um ano que foi bem complicado em alguns aspectos.

E por que desafio Zatopék?

Emil Zatopék é o nome de um tcheco que realizou um feito único no esporte. Nas olimpíadas de 1952, em Helsinque, conquistou a medalha de ouro nos 5,000m, nos 10,000m e na Maratona. Nunca antes e nunca depois um atleta conseguiu mesmo feito. Arrisco dizer que é um feito que jamais será repetido, até porque, nos últimos jogos olímpicos (e quando falo últimos me refiro a todos os que me lembro) nenhum atleta sequer compete nas três provas. Simplesmente não é possível por razões físicas, então o atleta escolhe focar em uma ou no máximo duas delas, e nesse caso, sempre nos 5,000m e nos 10,000m. O brilhante atleta britânico Mo Farah foi ouro em Londres nos 5,000m e nos 10,000m, feito raríssimo. Agora adicionar uma Maratona no final... ah, isso só Zatopék.

E a homenagem não é pelo feito em si. O desafio Zatopék não foi pelas suas realizações únicas... mas pelo modo como as conquistou. Zatopék foi provavelmente o atleta que mais treinou até hoje - tinha o apelido de locomotiva humana pelos seus treinos intervalados acompanhando trens.

Entre esses treinos brutais, um criado por ele me chamava atenção... 100 tiros de 100 metros.
Ou seja, 10,000m apenas em tiros de 100m. 

É claro que até um leigo no assunto sabe que 100m é uma distância curta, que envolve pura velocidade e explosão muscular. Mas e se for repetida cem vezes, à exaustão? Era o que Zatopek testava na prática, e funcionava.

Então já há alguns anos sempre pensei - um dia quero fazer um treino do Zatopék!
Aproveitando o aniversário e as circunstância... por que não ser hoje?

Convidei o amigo mais casca grossa que conheço, Juan Silveira, que também escreve um BLOG para me acompanhar nessa empreitada. O desafio foi aceito de prontidão. Inclusive acertado com dois jovens colegas de treino para realizar a filmagem.

Alguns problemas surgiram... por exemplo, um calor insuportávem em Floripa.
Marcamos para às 16h30, acabei me atrasando 15 minutos e após os aquecimentos iniciamos um pouco depois das 17h, mas mesmo assim estava muito quente.
Dessa maneira, não economizamos na água.

O desafio foi realizado na pista de 200m do Cefid. Então cada volta eram 2 tiros.
Mantivemos o intervalo de 30s do início ao fim.

A cada 10 tiros, uma filmagem era feita, para relatar nosso estado ao final do tiro 10, tiro 20, 30, 40 e por aí vai.

Os vídeos ainda precisam ser editados, mas aqui vai um breve relato:

Tiro 10 - Sempre o começo é um pouco desconfortável, e o calor estava atrapalhando muito.

Tiro 20 - Depois dos primeiros 19 tiros, o corpo já se acostumou. A coisa vira um passeio no parque.

Tiro 30 - Ainda muito calor. Ritmo cai. Fico um pouco preocupado, será que vai dar de ir até o fim?

Tiro 40 - O corpo já está mais do que acostumado. Dos 30 aos 40, me sinto bem. O 40 é uma espécie e ponto de inflexão. A partir daí começa a doer.

Tiro 50 - Metade. Mas mais da metade das forças já parecem ter ido.

Tiro 60 - Foi uma das piores partes. Já estava díficil, e ainda faltava muita coisa.

Tiro 70 - A coisa só piora. Começo a me abaixar no final de cada tiro. Os 30s de intervalo passam muito mais rápido que antes.
 
Tiro 80 - Mal falo na chegada dos tiros. É hora de concentração total. Nunca 30s passaram tão rápido.

Tiro 90 - Estou bem dolorido e com o lactato pegando. Mas faltam só 10, tenho certeza que vou terminar. Empolgado, resolvo acelerar nos últimos dez tiros.

Tiro 100 - Paraíso. Desafio cumprido, embora completamente sem forças. 

Quanto aos tempos, não sei bem dizer qual foi a média pela memória do relógio não suportar 100 tiros. Sei que os primeiros 20 foram na casa de 16s, depois o ritmo caiu e permaneceu por um bom tempo na casa de 17s. Por volta da metade, e até por volta do tiro número 80, subiu para 17 alto, 18 baixo.

Os últimos 10 foram rápidos. Acredito que na casa de 15s. É possível que o tiro 96, ou o 98 (meus melhores) tenham sido na casa de 14s.

Mas aí, o tempo não importava mais.

Importava era chegar no limite, completar o desafio e lembrar para sempre do dia que completei 24 anos.


Final do desafio, atletas e pessoal da filmagem, que também são atletas, e futuro do esporte em Floripa.



Eu e meu amigo Juan Silveira ao fnal do desafio. 100 tiros de 100m completados.

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