domingo, 28 de abril de 2013

A saga na BR-101


Desde que comecei a treinar para o Iron sempre imaginei que haveria um treino que significaria muito mais que esforço físico, mas seria aquele treino que eu lembraria para sempre, inclusive no dia do Ironman. Esse treino fiz ontem, na companhia do meu amigo Juan Silveira, um dia em que comecei a pedalar às 6h45 e cheguei em casa quase 17h.


A previsão era pedalar 180 quilômetros e correr 15. E um treino como esse, de meter medo, começa no dia anterior, com toda a preparação envolvida no pedal. Preparar a bike, a comida e os suplementos. Dois sanduíches com salame, duas bananas, quatro barras de cereal, porção de castanha, porção de amendoim e claro, gel de carboidrato de rápida absorção. Além disso, as bebidas: isotônico, maltodextrina, All Prox (proteína) e claro, água.

Saí de casa com o dia ainda escuro. E ele amanheceu já no posto Ampessan na BR, onde deixamos o carro antes de iniciar o pedal, enquanto realizávamos os últimos preparativos. Logo cedo dava para perceber que o dia seria quente e de céu azul.

O objetivo era ir até Navegantes e voltar. Ainda estava cansado da forte natação que havia feito no dia anterior (e que, aliás, não deveria ter feito). O ritmo começou forte nos primeiros quilômetros. Passagem de 30 quilômetros em 55 minutos e de 60 quilômetros em 1h52. Tudo tranquilo até então. Porém logo após o túnel em Balneário furou o primeiro pneu do dia, o do Juan. Paramos para trocar a câmara. Nisso percebi que o meu também havia furado. Mais uma troca.

Meia hora depois recomeçamos a pedalar. Meu pneu ainda não estava bom. A câmara havia ficado um pouco para fora em um ponto do pneu. Paramos. Retrocamos. Na hora de encher, o Juan acabou quebrando o pino da câmara, que foi para o saco também. E tivemos que trocar mais uma vez.

1h30 depois finalmente conseguimos voltar a pedalar, já com o sol rachando. Chegamos em Navegantes na altura dos 90 quilômetros, quando fizemos o retorno. Por volta de 100 quilômetros meus dois litros de líquido já haviam se esgotado. Novamente o pneu do Juan acabou furando. Não era um dia de muita sorte nesse aspecto. Mais uma parada. Aproveito para comer meu segundo sanduíche. Mas a falta de uma sombra me fez perceber que já estava meio debilitado.

Por volta dos 115 quilômetros, em Balneário, paramos no posto. Em 15 minutos bebi 500ml de isotônico e quase 600ml de coca-cola, além de água. Também comi barrinhas de cereal, mais um gel, e um pacote de clube social. Questionei o Juan sobre ele não estar comendo sal... mas me disse que estava tudo ok.

Seguimos em frente para enfrentar o Morro do Boi. E que morro. Passar de carro por ali não dá a noção do quanto ele é pesado quando se sobe de bicicleta. Aí comecei a sofrer, pois era por volta do meio-dia. Suava muito. O Juan pedalava um pouco a frente, e após a descida, percebi que ele havia sumido no horizonte.

Imaginei que ele estaria me esperando em algum ponto mais a frente, mas os quilômetros foram passando e eu imaginei que ele simplesmente havia decidido terminar o treino sozinho. Mas algo estranho estava acontecendo, pois eu não estava pedalando tão devagar, e ele simplesmente havia sumido, sem nenhum sinal.

Esses quilômetros, sobretudo entre o 125 e o 150, foram bem desconfortáveis, pois senti muitas dores no quadril e ainda não havia a perspectiva de chegada. Já estava bem quebrado.

Nas últimas subidas tive ameaças de caibras fortes no lado esquerdo do quadril. E eis que no quilômetro 170 o Juan surge. Ele havia me alcançado. Na verdade, após o morro em Balneário, ele havia parado para um pit stop. Eu não vi, passei por ele, e logo depois seu pneu traseiro furou pela terceira vez no dia, fazendo-o ficar cerca de 15 minutos atrás de mim, diferença que ele tirou pedalando forte nesses 50 quilômetros até me alcançar.

Terminamos o pedal com exatos 183,5 quilômetros. Missão quase concluída. Faltava a corrida. A sensação de começar a correr depois de tanto tempo na bike é estranha. Mas logo meu corpo começou a soltar e eu estava me sentindo muito bem, diferente do Juan que começou a sofrer bastante, sobretudo com pressão baixa. Sabia que era falta de sal no corpo. Paramos algumas vezes e decidimos que faríamos 10 em vez dos 15 quilômetros planejados. Não sei como ele conseguiu completar dez quilômetros naquele estado, pois realmente estava bem mal e cheguei a pensar que ele poderia desmaiar. 

Na raça, completamos. Logo depois da chegada comprei um pacote de ruffles que o revitalizou um pouco. Era por volta de 16h. Sinto que agora estou preparado para o que der e vier no Ironman.

Um comentário:

  1. Maluco... já tive bem pior e não desmaiei, mas tive que criar a técnica de lamber o sal do braço, infelizmente nossos corpos estavam pura sujeira depois do pedal, e não pude utilizar da minha estratégia, eu estava mal sim, mas nunca ficarei tão mal quanto na maratona do ano passado.

    Aquele foi meu divisor de águas, e nenhuma dor ou cansaço que senti e sentirei daquela data em diante, será algo para me preocupar.

    Se no estado em que eu estava ali no treino, fosse nos 10km do IRONMAN, eu poderia levar o resto do dia, mas antes da meia noite eu passaria pelo pórtico de chegada.

    O sonho é mais alto do que a preocupação com a saúde na hora. Terei o resto da minha vida para me preocupar com meu corpo, mas assim que escutar a buzina de largada no dia 26, só terei paz dentro de mim, quando escutar o narrador do evento dizer: "Parabéns Juan, você é um IRONMAN!"

    Força Rafa, em junho marcamos algo para rever a trajetória. VAMO QUE VAMO

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