segunda-feira, 13 de maio de 2013

Os dias em que me tornei Ironman

Tenho realizado meus últimos treinos com lágrimas nos olhos. Faltam menos de duas semanas para o Ironman Brasil 2013, e fica difícil conter a emoção até mesmo nos treinos. Que pensarei eu, nos últimos quilômetros de corrida? Qual será a sensação? Quão cansado estarei? Tenho certeza que passará o filme. Lembrarei do Rafael correndo quando criança. Lembrarei do dia que consegui cruzar uma piscina de 25 metros pela primeira vez. Lembrarei da minha primeira bicicleta.

Sobretudo, lembrarei dos treinos que me fizeram chegar até ali. Passados os treinos principais e já na fase de descanso e preparação mental, faço uma recapitulação em ordem cronológica dos treinos mais inesquecíveis. Aqueles que passarão em minha mente como um filme.

06 de dezembro - meu aniversário e dia mais quente de 2012. 40 graus em Floripa. Nesse dia comemorei-o de maneira especial, fazendo uma homenagem ao lendário atleta Emil Zatopék, e correndo 100 metros por 100 vezes, com 30 segundos de intervalo.

24 de dezembro - véspera de natal. Ruas desertas. Universidade mais deserta ainda. E, por volta das 19h, antes do jantar com a família, pulo o portão da pista e faço 20 tiros de 400 metros com apenas 30 segundos de intervalo. Termino morto e me jogo na grama. Em cima de um formigueiro. Não dormi nessa noite. Um natal inesquecível.

29 de dezembro - a primeira transição pauleira. 60 quilômetros de bike e 14 quilômetros de corrida. Terminei empolgado. Foi um dia crucial, pois foi a primeira vez em que percebi realmente que era possível.

01 de janeiro - essa é para lembrar do meu comprometimento com um sonho. Treinei no dia do meu aniversário, no dia do natal, e no primeiro dia do ano. Não teve nada de especial no treino em si - 11 quilômetros em 43 minutos - mas tenho certeza que foi um passo importante. Eu precisava estar lá na Beira-Mar quando ninguém mais estava.

09 de fevereiro -
talvez esse seja o dia que melhor retrate meu comprometimento. Passando o carnaval na praia da ferrugem, resolvo sair para correr 20 quilômetros, simplesmente ignorando a muvuca nas ruas, as pessoas bêbadas, e o movimento caótico. Deu tudo certo, e ainda inspirei alguns bêbados a correrem atrás de mim.

03 de março - o primeiro treino longo na BR a gente nunca esquece. Até porque sair de Biguaçu e ir até Balneário Camboriú e voltar não é algo muito convencional. Foram 120 quilômetros muito bem concluídos e satisfeitíssimo com o desempenho. Achei que ficaria mais quebrado depois.

12 de março - 60 quilômetros de pedal na SC-401 e cheio de simbolismo. Esse treino nunca vou esquecer. Furou meu pneu da bicicleta. Estava com dificuldades para trocar a câmara, no meio da estrada, sem celular. Passa um catador de latinhas e pergunta se quero ajuda, já se oferecendo na maior humildade. Me ajudou a trocar e ainda fez questão de encher meu pneu. Disse para eu tomar cuidado, desejou-me bom dia, e seguiu sua viagem. Terminei o treino chorando com as injustiças do mundo.

19 de março - eu já havia dormido pouco na noite anterior, e o dia de trabalho foi extremamente cansativo, visitando empresas das 8 da manhã até às seis da tarde. Termino esgotado. Tinha um teste de 3,000 m para fazer. Para completar, chovia muito. Estava em Itajaí e tudo que queria era ir pro hotel e dormir. Você sempre pode pensar que um treino a menos não vai fazer diferença. Mas é justamente no momento em que você pensa isso, que se superar essa dúvida, vai descobrir que sim - faz muita diferença. A sensação de terminar foi tão gratificante que nem sei definir.

07 de abril - meu simulado. O triatlon longo de Jurerê, organizado pela Federação Catarinense de Triatlon era o meu teste pré-Ironman. A distância era bem respeitável - 1,800 m de natação, 60 km de bike, e 15 km de corrida. Natação acima do esperado, bike razoável, e uma corrida sublime, veloz e empolgante. O sonho deixou de ser apenas possível - tornou-se real.

13 de abril - o meu melhor treino de pedal na BR. Com a parceria de um amigo, pedalo 140 quilômetros, sendo 120 a uma média acima de 34 km.h.

27 de abril - "o" treino. Tão especial que mereceu uma postagem exclusiva. A saga na BR-101. 183 quilômetros de pedal (ida e volta até Navegantes), com muitos perrengues pelo meio do caminho, muita resistência debaixo do sol e 10 quilômetros de corrida sem sentir direito as pernas pra fechar com chave de ouro.

30 de abril - que tal fazer 10 tiros de 1,000m de corrida, ao pace médio de 3m27s por quilômetro, e depois cair na água logo na sequência e fazer mais seis tiros de 200 metros na piscina, um total de quase 3,000m na água? Eis um treino insano.

04 de maio - nem só de bons treinos vive a lista. Desse me lembrarei porque "quebrei". Comecei os 100 quilômetros de pedal muito forte, e sob forte sol, com 60 quilômetros já estava quebrado. Me arrastei até o fim, e os 10 quilômetros de corrida depois foram sofríveis, desidratado e esgotado. Abri o carro, sentei nele, e quase dormi por lá mesmo. Mal tinha forças pra ir pra casa.

08 de maio - um dos mais inesquecíveis dias de treino. Meu pico máximo de corrida - 32 quilômetros em uma fria manhã, correndo fácil e muito bem. E de noite? Bem... 3,400 metros de natação. 

11 de maio - Último final de semana de treinos. Espécie de simulação da prova. 90 quilômetros de bike, e 21 quilômetros de corrida. Bike com muitas dores, o que me deixa preocupado. Mas corrida fácil me anima novamente.

12 de maio - 1h20 de natação no mar em fúria de jurerê. Engoli água, flocos de água viva, e venci.

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