sexta-feira, 7 de junho de 2013

A última história do Ironman

Eram 06h20 da manhã de um dia que eu sabia que seria inesquecível, e faltavam quarenta minutos para a largada. A área de transição seria fechada às 06h30, o que significava que eu ainda tinha dez minutos para ajeitar o que precisasse na bike antes de ir para a praia e iniciar a etapa de natação.

Um amigo me acompanhava. Depois de ajeitar todos os suplementos na bike e deixar tudo pronto nas sacolas, me dirijo para a saída. Mas ainda havia algo que eu precisava fazer. Digo para meu amigo, com quem treinei tantas vezes, me esperar. "Já volto", digo. Pego algo na sacola e me dirijo novamente à bicicleta. Minha companheira de guerra. Nomeada Fênix, pois há um ano eu vivia o momento mais difícil da minha vida e agora estava ali, pronta para renascer. 

Ali, às 06h25, eu viveria o momento mais inesquecível do Ironman. 
Mais até do que a chegada, 10 horas e 27 minutos depois.

Carteira na mão (e vazia, é claro, para o caso de se perder nas transições), eu finalmente retiro uma foto, uma sublime foto, difícil de tirar, pois ali já estava há quatro anos sem nunca ter sido tocada.

Antes de ajeitá-la na bike, passo os dedos na foto. Percebo como envelheci. Será que se passaram apenas quatro anos? E, despretensiosamente, desviro a foto, imaginando ali haver alguma data. Meus olhos se enchem de lágrimas e eu desabo.

"Essa foto é para você lembrar que estarei com você onde quer que estiveres. Eu te amo muito!".

Parece que a vida fez de propósito. Outras vezes eu já havia pensado em tirar essa foto do seu lar dos últimos quatro anos. Não havia conseguido. Parece que tinha que ser ali. Não sei definir o sentimento que passou por mim nesse momento. Acho que um sentimento de certeza. Eu não tinha mais medo do Ironman ou de qualquer outra coisa. Iria até o fim até com as pernas quebradas.

E eu, que sempre gosto de planejar os ritmos de prova, calcular tudo com cuidado e contar os segundos, fiz as dez horas e vinte e sete minutos de prova na base da pura emoção. Mal olhei o relógio. Sofri muito menos do que imaginava que sofreria. Não senti dor. Nadei muito melhor do que poderia sonhar. Pedalei como nunca fiz nos treinos. Passei 398 competidores na corrida e terminei na posição de número 283 entre os 1,906 atletas que concluíram. No último quilômetro da corrida, minha vida se passou em cerca de cinco minutos. Lembrei do pequeno Rafael correndo por aí. Lembrei da primeira bicicleta, da primeira vez que atravessei uma piscina sem respirar. Lembrei dos meus amigos, e da minha família. Eu sempre fui um grande privilegiado. Sempre tive muita sorte. Que vitória poder estar ali. Eu chorava muito, mas era um choro de alegria, e também de consolo.  Consolo porque aquele momento, por mais especial que fosse, jamais seria tão especial quanto poderia ter sido. Gostaria muito que você estivesse ali, mas nossos caminhos se separaram. 

Eu cruzo aquela linha de chegada... que para mim significa muito mais que o final de um desafio muito difícil. Significava o final de uma parte importante da minha vida.

Eu me abaixo - precisava me curvar ante à emoção daquele momento.

Retiro do bolso aquela foto. Aquele símbolo de sempre ter acreditado. A foto que levei no bolso nos quarenta e dois quilômetros de corrida. Olho para ela pela última vez, e a deixo ali, naquele asfalto de suores e glórias, de alívio e dores, de memórias.

Quatro anos depois, eu tinha levado você até a linha de chegada.

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Vídeo que retrata essa história:


3 comentários:

  1. realmente maioral, a historia eh fantastica! e tenho certeza q voce deu um toque todo especial nela com sua veia jornalistica, maaaaassssssss toda historia tem 2 lados, nao? queria saber a versão do "lado de lá". o q realmente aconteceu??? Estou curioso

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  2. sim sim, mas quem 'e? anonimo fica dificil hehe

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  3. sim sim, mas quem 'e? anonimo fica dificil hehe

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