quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

À dama da noite

Ela tinha um algo indefinível que em cinco minutos me desarmou. Particularmente não era linda, no que se comparava defronte a tantas beldades bem vestidas em tão nobre ocasião - há quem pudesse se enganar em tratar-se de mais uma em vasta multidão. Tinha, entretanto, mais rara e poderosa característica, quase que magnética, e a quem seguisse meu olhar não duvidaria da enormidade que causava sobre mim.  Não poderia colocar a culpa no álcool e seus impropérios: de certo que estava alegre, mas minha consciência e estado eram por demais sãos para acreditar ser essa uma e suas ciladas. Por dentro me revirava em fogo e emoção daquele raro sentimento de parecer mais que um rostinho bonito ou efeito de bebida exagerada; por fora isso se remetia em alguns deslizes, tampouco que exagerasse na falta de compostura. Ardia de incontrolável, mas o controle ainda me pertenceria naquela noite, embora em meus pensamentos sabia se tratar daquelas situações longe de minha especialidade. Não me eram problema os rostinhos bonitos, as cinderelas da noite, comuns, enfileiradas. Com elas bem me dava e dali me poderia sair com mais uma, da qual pouco lembraria na manhã seguinte. Mas me eram problemas aquelas belezas incomuns, da qual coração meu vibrava, e ao mesmo tempo se entristecia, ante a constatação de não poder dizer-lhe tudo, sem que me fosse apresentado o preconceito de supostamente distribuir esse elogio a todas.
Gostaria de dizer-lhe que me fez desconfiar de que algo a mais ali estava planejado e que pouquíssimas ocasiões, talvez apenas uma outra, tenha tido desconfiança parecida - a de ali estar diante de um potencial acontecimento de vida, tão universo que fosses, tão despertar de meus instintos que me alertam em ocasiões assim, e me pouco relegam tempo e olhos para quaisquer outras questões. É de um não saber explicar que impressiona, e aí reside tua graça especial. Não eram os olhos de realismo ou o vestido elegante, nem mesmo a voz firme de profissionalismo, às vezes distante. Era o conjunto, este único, que me fazia adentrar-me em universo próprio.

Naquela noite, minha indômita bravura de atleta não teve a menor chance; controlou-se, mas não resistiu; derreteu-se em sorrisos que insistem em escrever essas palavras, provavelmente pela louca possibilidade daquilo que desconfio provar-se verdade; e então, se verdade nos for, poderei me defender nessas linhas com a contemplativa convicção de alguém que sempre soube...

* baseado em fatos reais, esses devaneios que por vezes me tiram do foco de atleta, que deveria ser o motivo de existência desse blog...

Um comentário:

  1. Ahh, por favor, o blog se chama Rafa Maioral. O blog não se chama "atleta Rafa Maioral".
    Por mais que eu ache ótimo ler sobre seu ácido lático e o suor escorrendo no rosto, e que deve ser um local para auxiliar seu lado atleta, acho que um blog é sempre um pouco diário. Eu comecei um blog para esvaziar pensamentos, mas não tinha vontade de me expor demasiado. Evitava falar de mim, colocar minhas fotos. Até que vi um desejo desesperado de falar cada vez mais do que eu gosto e do que eu não gosto. E já estava falando de mim.
    E aí, nessa necessidade universal de se expor nas redes sociais, você percebe que em um blog você precisa colocar um pouco. Precisa ceder essa leve exposição, para que quem leia acredite haver alguém que escreve. Que essa pessoa seja real, que por isso ela também tem calos da corrida, por isso ela também compra uma maquiagem que é cara e não cumpre o que promete, por isso ela vai ao cinema e descobre que manchou de coca a blusa da irmã, que ela achou o filme extraordinário e quis comentar, que ela leu o livro que outra pessoa indicou para ela e que, no fim de tudo, ela sentiu vontade de colocar as letras em sequência que não necessitariam de sequencia alguma.

    Que sua bravura de atleta ceda mais vezes

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