domingo, 30 de março de 2014

O atletismo brasileiro precisa de um herói


No início dos anos 70 o corredor americano Steve Prefontaine ganhou a América e se tornou um dos esportistas mais conhecidos dos Estados Unidos, rivalizando com os astros da NBA / NFL. Carismático, Prefontaine tinha um estilo destemido de correr e se tornou ídolo por uma série de motivos, os quais já escrevi AQUI.  Em 1972, o americano Frank Shorter venceu a maratona olímpica em Munique e deu mais força a um movimento conhecido como running boom, em que também teve sua parcela de participação o americano Kenneth Cooper (do método Cooper, até hoje sinônimo de uma corrida leve).

Não paramos para pensar nisso todos os dias, mas precisamos de heróis. Precisamos daquelas pessoas que nos servem de exemplos e nos mostram que é possível. Que inspiram gerações por suas personalidades ímpares.

Oscar mudou a história do basquete no Brasil. Ayrton Senna mudou a história da F-1 e Gustavo Kuerten mudou a história do tênis. Por que? Pois além de excelentes atletas, foram carismáticos em seu auge, cada um a sua maneira.

A corrida de rua vive um momento único no Brasil. Vive uma espécie de running boom, como viveram os Estados Unidos nos anos 70. Mas é um running boom órfão de um ídolo. Falta aquele cara que façam os brasileiros acordarem domingo de manhã. Que faça as pessoas se interessarem pelo esporte e as crianças pensarem: "eu quero ser igual ele".

É irônico que cada vez mais pessoas pratiquem a corrida de rua no Brasil e cada vez menos o Brasil tenha atletas de ponta no esporte a nível mundial. A verdade é que o número de atletas de elite no Brasil caiu muito. Uma das razões é a proeminência das corridas de rua em detrimento do atletismo de pista. Isso acontece porque é na corrida de rua onde estão as premiações, e assim muitos talentos não passam pela pista, perdendo uma parte importante da formação e desenvolvimento do atleta.

Onde está esse ídolo perdido? A maior possibilidade é que ele esteja nos campos de pelada. A estrutura do atletismo brasileiro, sobretudo nas escolas, é nula. E nas Universidades é quase nula. As pessoas vão se interessar pelo esporte adultas, normalmente por questões de saúde.

Nas últimas décadas tivemos alguns aspirantes a heróis. Ou melhor, tivemos alguns atletas muito bons, onde talvez o que justamente faltado tenha sido essa aspiração à herói. Ou carisma, como diriam alguns. Marílson Gomes dos Santos foi quinto colocado na última maratona olímpica. Venceu duas vezes a Maratona de Nova York, uma das mais disputadas do mundo, e três vezes a São Silvestre. É tido como o melhor maratonista do mundo não-africano... ou pelo menos era, visto que está no final de sua carreira. Vanderlei Cordeiro de Lima foi o famoso brasileiro que, na final olímpica em Atenas, foi agarrado por um fanático religioso perto do final da prova, enquanto liderava (embora ele dificilmente teria sido campeão), terminando com o bronze. Ronaldo da Costa bateu o recorde mundial da maratona em 1998. Deu uma estrela ao cruzar a linha de chegada. Isso foi grande... mas sua carreira decaiu muito rápido logo depois.

Fora isso vale a pena relembrar aquele que talvez tenha sido o maior momento em termos midiáticos. A vitória do então desconhecido Emerson Iser Bem sobre o queniano Paul Tergat nos metros finais da São Silvestre de 1997. Vídeo AQUI
Um brasileiro arrancando na subida no final da prova e vencendo um queniano de alto nível... hoje algo sem precedentes.

Em todos esses casos o que faltou para o surgimento do nosso 'herói' foi uma soma de basicamente dois fatores; carisma do atleta, e circunstâncias um pouco mais favoráveis, que gerassem maior apelo da mídia e interesse dos patrocinadores.

Enquanto isso, nós, corredores apaixonados, que adoraríamos ver nosso esporte com maior espaço, continuamos à espera do nosso Steve Prefontaine, ou do nosso Ayrton Senna de tênis.

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