sexta-feira, 15 de agosto de 2014

16 minutos. 5 quilômetros. 2 mundos

Embora exista uma "ordem" de mercado hoje onde "ir mais longe" é o mesmo que "correr melhor" (o que gera distorções insanas na cabeça dos leigos, que acham que correr uma maratona em 5 horas é mais difícil que correr um 5 quilômetros em 20 minutos, por exemplo), eu adoro provas de 5k. Elas são particularmente difíceis e levam a um nível de intensidade de luta contra a dor que simplesmente não existe em provas mais longas, ou existe de maneira bem diferente, não tão bruta.

Já há algum tempo que estou no seguinte nível nos 5k: quando corro bem, é 16 baixo, quando corro mal, é 16 alto. Já corri 16:13, 16:18, 16:21, 16:32, 16:37, 16:40, 16:52 por duas vezes, 16:54. Este nível, juntamente com o fato de eu competir nas pistas e nas ruas, me faz conhecer dois mundos.

No mundo das corridas de rua, sou "profissional". Muito em parte pela lastimável estrutura que o atletismo brasileiro possui, correr 16 minutos nos cinco quilômetros parece ser grande coisa por aqui. Não é. Pelo menos não deveria ser, fôssemos um país sério. Ou talvez seja - no feminino. Em países que dão valor ao esporte junto à educação, apresentando estrutura decente nas universidades, correr 16 minutos nos cinco quilômetros é um bom tempo recreativo. Jamais me garantiria, por exemplo, uma vaga em universidade americana, nem uma de quinta divisão. Talvez eu teria uma chance de treinar com as mulheres. Mas só se elas não fossem suficientemente rápidas, pois as melhores correm facilmente na casa de 15 minutos.

Esses dias vi, vagando pela internet, um corredor do meu nível e da minha idade, correndo 5 quilômetros em "15 alto, 16 baixo", se auto-intitulando corredor profissional. Provavelmente ele não sabe o quão longe está do nível de um corredor de 15 anos hoje nos Estados Unidos ou Europa. E, se ele não sabe, muito menos quem lê e acredita que se está diante de realmente um corredor que vive do esporte. E assim vamos nos contentando com pouco.

Felizmente no Brasil é possível provar um pouco desse verdadeiro mundo, e participo de competições de pista onde sou um mero coadjuvante. Ali posso ser quem eu verdadeiramente sou - um bom corredor recreativo, que leva o hobby a sério, mas que não tem marcas expressivas.

Ali, eu sou um zé ninguém. E confesso que essa é uma sensação muito mais confortável e justa do que aquela da prova de fim de semana onde abro a reta final na frente com aquela desconfortável (e àquela altura também bem dolorida) sensação de mais uma vez terminar em 16 minutos, em um primeiro lugar que não me pertence, ou, pelo menos, não deveria pertencer.

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