domingo, 28 de setembro de 2014

Maratonistas, temos um novo rei

Acordei nessa madrugada para acompanhar a Maratona de Berlim por basicamente dois motivos.
O primeiro é que essa maratona é tradicionalmente conhecida pela quebra de recordes mundiais. Haviam sido quatro nos últimos sete anos. Percurso rápido e plano, temperatura ideal, incentivos financeiros.

O segundo é que o principal desafiante ao recorde atendia pelo nome de Dennis Kimetto.
Ouvi falar pela primeira vez desse queniano em 2012, quando ele correu uma das performances mais rápidas da história na própria maratona de Berlim, mas terminou em segundo, numa corrida muito polêmica e que recebeu amplo espaço da mídia pelo fato de ter ficado nítido que Kimetto não forçou para passar o mais experiente Geoffrey Mutai, seu companheiro de treinos. Tivesse Kimetto vencido, Mutai não teria sido o campeão do circuito mundial de maratonas, e não teria recebido o prêmio de 500 mil dólares (do qual Kimetto, supõe-se, teria barganhado sua parte).

O fato é que ninguém corre 2h04m16 como ele fez em 2012 sem ser muito especial. E fazer isso sem ter dado seu máximo esforço... bem, ali eu passei a prestar atenção nesse queniano, dentre os outros tantos grandes nomes que o Quênia possui no esporte. Achei que ele era diferente.

Em 2013, Kimetto venceu a Maratona de Tóquio no início do ano, e no segundo semestre, em Chicago, correu a até então quarta marca mais rápida da história, quebrando o recorde da prova em 2h03m45. O mais impressionante foi ter chegado ao fim dizendo que dava para correr mais rápido.


Mais rápido quanto, se o recorde mundial era 2h03m23?

Kimetto deu a resposta nessa madrugada, em Berlim, em uma das mais impressionantes performances que eu já vi.


Passando a meia-maratona em 1h01'45 (até então uma previsão de 2h03'30), acelerou na segunda metade de prova para "negativar" e fechar a 2a meia-maratona em 1h01'12.

O tempo dele? 

2h02'57".

O que foi mais impressionante em sua performance? Saber que o segundo colocado, Emmanuel Mutai, também correu abaixo do recorde mundial (2h03'13), mas Kimetto sempre teve controle da corrida e acelerou para a vitória quando quis. Veja bem... estamos falando de dois atletas que correram juntos em ritmo de recorde mundial até o quilômetro 35, e um deles simplesmente acelerou em relação a um ritmo que já era absurdo nos últimos quilômetros.

O recorde é importante por pelo menos dois motivos:

- A barreira das 2h03 foi quebrada pela primeira vez.

- Os recordes da maratona foram unificados. Sim, porque em 2011, Geoffrey Mutai (o mesmo que teve a disputa polêmica com Kimetto em 2012), correu 2h03'02 em Boston, mas o que seria recorde mundial não foi validado por diversos motivos relacionados ao percurso dessa prova. 

Alguns fatos curiosos:

- O pace de Kimetto foi de 2m54 / km. Para quem quer ter uma ideia do que é isso... Tente colocar a esteira a 20.5 km/h e correr alguns segundos nessa velocidade...

- Kimetto só começou a correr de verdade depois dos 20 (atualmente possui 30). Trabalhava em uma das tantas fazendas do Kênia, quando foi descoberto por Geoffrey Mutai.

- Kimetto disputou agora quatro maratonas "majors" na vida. Venceu 03, e na única que não venceu, foi a polêmica maratona de Berlim de 2012 citada acima.

Amigos maratonistas, temos um novo rei!



E, por fim, Kimetto levanta novamente a discussão... será possível algum dia o homem superar a barreira das 02 horas na maratona?

Minha opinião... acho que sim. Mas vai demorar muito mais tempo do que as pessoas hoje imaginam.